Dieta do mediterrâneo e sua ligação com a enxaqueca

Luana Manosso

A enxaqueca é definida como um distúrbio neurovascular complexo caracterizado por ataques recorrentes de dor incapacitante, acompanhados de náuseas, vômitos, fonofobia, fotofobia e sensibilidade ao movimento, com duração de 4 a 72 horas.

Evidências crescentes sugerem que uma nutrição adequada e um estilo de vida saudável podem ter o potencial de afetar o curso clínico da enxaqueca devido ao seu papel fundamental na inflamação sistêmica, na vasodilatação dos vasos cerebrais e no metabolismo cerebral da glicose.

Hoje compartilho um estudo clínico com 170 pacientes com enxaqueca que evidenciou que a baixa adesão a dieta do mediterrâneo e a presença de distúrbios do sono-vigília foram associados à incapacidade e à cronificação da enxaqueca.

Ou seja, melhorar o sono e a alimentação podem contribuir para auxiliar no tratamento da enxaqueca.
Se quiser ler com detalhes o artigo, segue a referência:
Ref: Bovenzi, R.; et al. Nutrients., 16(13), 2169, 2024. Doi: 10.3390/nu16132169

Coenzima Q10 e enxaqueca

Essa semana o assunto está sendo enxaqueca por aqui. No post de terça-feira comentei que o estresse oxidativo é um dos fatores que está envolvido na fisiopatologia da enxaqueca. Por outro lado, uma das substâncias antioxidantes que temos no nosso corpo é a coenzima Q10. Ela é importante para a síntese de energia dentro da mitocôndria e para o funcionamento adequado dessa organela, diminuindo a formação de espécies reativas de oxigênio. Por esse motivo, vários estudos têm investigado o efeito da suplementação com coenzima Q10 no tratamento da enxaqueca. Mas será que funciona? Essa meta-análise publicada agora em 2021 investigou justamente isso. Após analisar 6 estudos, foi observado que a suplementação de coenzima Q10 reduz a duração e a frequência dos ataques de enxaqueca após seis semanas de suplementação. Porém não reduziu a severidade da enxaqueca. Vale a pena destacar que as doses variaram entre os estudos, com a maior parte dos estudos (n = 4) utilizando doses de pelo menos 400 mg/dia de coenzima Q10. Porém, ainda não se pode afirmar que essa dose é a mais eficaz. Por isso, antes de tornar essa informação uma verdade absoluta, procure por um bom nutricionista!

Riboflavina e enxaqueca

A fisiopatologia da enxaqueca é complexa e envolve várias questões. Dois pontos envolvidos na enxaqueca e que tem relação com nutrição é o estresse oxidativo e a inflamação. Dessa forma, estratégias que controlam o estresse oxidativo e a inflamação têm sido estudadas para auxiliar no tratamento da enxaqueca. Nessa revisão publicada agora em 2021, os autores levantam os principais achados clínicos e pré-clínicos que associam a vitamina B2 (riboflavina) e a enxaqueca. Avaliando os mecanismos de ação, diversos estudos em animal sugerem a capacidade de vitamina B2 em diminuir o estresse oxidativo, melhorar a função da mitocôndria e diminuir a inflamação no cérebro. Além disso, existem alguns estudos clínicos que demonstram que a suplementação com doses altas de riboflavina (normalmente 200 – 400 mg/dia) pode auxiliar no tratamento da enxaqueca. Porém, ainda existe a necessidade de mais estudos clínicos. Por isso, ainda não podemos afirmar que essa dose alta de riboflavina vai ser interessante em todos os casos de enxaqueca. Procure um nutricionista para avaliar individualmente o seu caso.

Enxaqueca e dieta

A enxaqueca é um problema que impacta negativamente a qualidade de vida da pessoa. Embora tenhamos várias questões envolvidas na etiologia e fisiopatologia nesse problema, a alimentação pode ter um impacto relevante. Por outro lado, ter enxaqueca também pode impactar nas escolhas alimentares. E essa revisão agora desse ano aborda justamente sobre essa comunicação bidirecional entre alimentação e enxaqueca. Os autores colocam que alguns hábitos alimentares podem ser um gatilho para enxaqueca, podem aumentar inflamação (que está associada à enxaqueca), podem estimular um ganho de peso (obesidade também está relacionada à enxaqueca) e pode alterar o intestino e a microbiota (o eixo microbiota-intestino-cérebro também está envolvido na fisiopatologia da enxaqueca). Por outro lado, pessoas que têm enxaqueca também podem ter escolhas alimentares alteradas (em qualidade ou quantidade). Por isso, se você tem enxaqueca, procure um Nutricionista.

Magnésio e dor de cabeça

Se você me acompanha por aqui já deve saber que várias estratégias nutricionais podem ajudar nas dores de cabeça e enxaqueca. Uma das estratégias de que mais gosto é o magnésio. Nessa revisão, os autores investigam o papel do magnésio nas dores de cabeça/enxaqueca, bem como sua efetividade. Pensando em mecanismo de ação, o magnésio consegue agir em vários mecanismos fisiopatológicos envolvidos no aparecimento da enxaqueca, incluindo: age diminuindo o receptor NMDA (diminuindo glutamato), diminui os níveis de CGRP (peptídeo associado com enxaqueca), influencia na produção de óxido nítrico e impede a vasoconstrição induzida pela serotonina. Pensando em efetividade, temos vários estudos mostrando que doses variadas de suplementação podem ajudar no alívio da dor. É bom lembrar que vários alimentos possuem magnésio e, assim, as doses de suplementação podem variar de acordo com a alimentação da pessoa. Procure um Nutricionista para orientá-lo melhor!

Enxaqueca e intestino

Para finalizar o mês falando de cérebro, hoje trouxe um artigo de enxaqueca. Essa revisão mostra a relação da enxaqueca com o intestino. Os autores abordam vários mecanismos pelos quais o intestino inadequado poderia influenciar na enxaqueca, incluindo: aumento de inflamação, alteração de neurotransmissores e neuropeptídios, alteração de cortisol, alteração na “mensagem” passada via nervo vago, etc. Além disso, os autores discutem sobre opções de tratamento pensando nessa comunicação entre intestino e cérebro. Eles colocam, por exemplo, melhorar a função do intestino dando alimentos com mais fibras e com ômega-3, suplementando probióticos e vitamina D e também comentam sobre a possibilidade de uma dieta sem glúten. Mas lembre-se, individualidade é MUITO importante. Apenas um profissional competente e atualizado vai avaliar qual a melhor estratégia a ser utilizada!

Enxaqueca e emagrecimento

As dores de cabeça estão associadas com várias questões fisiopatológicas. Duas delas bem importantes são a inflamação e estresse oxidativo. Uma situação que aumenta inflamação e estresse oxidativo é a obesidade. Estudos já comprovam que pacientes obesos podem ter uma piora das dores de cabeça. Mas será que emagrecer melhora a dor de cabeça? E foi isso que essa meta-análise publicada em 2020 avaliou. Após avaliar 10 estudos, foi demonstrado que o emagrecimento (tanto por estratégias cirúrgicas ou não cirúrgicas) está associado com melhora das dores de cabeça. Emagrecer diminui a frequência, a severidade da dor, e a duração da dor de cabeça. E nunca esqueça que o profissional mais habilitado para orientá-lo sobre alimentação e ajuda-lo a emagrecer é o Nutricionista!

Vitamina D e dor de cabeça

Existem vários tipos de dores de cabeça, que podem ter diversas causas. Além do tratamento farmacológico, estratégias nutricionais também estão sendo estudadas com o objetivo de prevenir e/ou tratar as dores de cabeça. Uma dessas estratégias é a suplementação com vitamina D. Nessa revisão agora de 2020 os autores avaliaram o papel da vitamina D em dores de cabeça. Após avaliar 22 artigos, os autores colocam que embora não haja evidências suficientes para recomendar a suplementação de vitamina D a todos os pacientes com dor de cabeça, a literatura atual indica que a suplementação com vitamina D pode ser benéfica em alguns pacientes com dores de cabeça, principalmente nas enxaquecas. Além disso, a vitamina D parece reduzir a frequência de dores de cabeça, especialmente naqueles com deficiência de vitamina D. Mas lembre-se, antes de tornar essa informação uma verdade absoluta, procure por um bom nutricionista!

Complexo B e enxaqueca

A enxaqueca é uma doença neurovascular complexa e é uma consequência de uma interação entre fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. Um dos genes mais estudados para a enxaqueca é o gene que codifica a enzima MTHFR, envolvida no metabolismo do ácido fólico e da homocisteína. Após fazer uma revisão sobre o assunto, os autores desse artigo de 2019 colocam que é interessante avaliar a presença o polimorfismo na MTHFR (C677T), bem como os níveis de homocisteína em paciente com enxaqueca, em especial enxaqueca com aura. Nesses casos, o uso de vitaminas do complexo B, em especial ácido fólico, B12 e B6 poderia ser interessante. Mas lembre-se, antes de tornar essa informação uma verdade absoluta, procure por um bom nutricionista!

 

Vitamina D e enxaqueca

O verão chegou e as pessoas tendem a pegar mais sol. Embora o excesso de sol possa trazer prejuízos à saúde, em quantidade adequadas ele é importante para a síntese de vitamina D. Essa vitamina tem várias funções importantes do corpo e, sua deficiência, pode estar correlacionada com vários problemas. Nesse recente estudo foi avaliado os níveis de vitamina D em pacientes com enxaqueca. Após análises, foi observado que pacientes com enxaqueca tinham níveis menores de vitamina D do que pacientes controle. Porém, ainda faltam estudos avaliando se suplementar vitamina D e/ou aumentar a exposição solar podem trazer benefícios do tratamento da enxaqueca.